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A questão da Alfabetização


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Os métodos de alfabetização entraram na pauta de discussão de escolas, professores, pais, educadores. Teria um método melhor, muito superior?

O processo de aquisição de leitura e escrita, é um dos mais complexos a que submetemos nossos cérebros, diferente de aprender a falar.

A fala acontece de maneira espontânea para a grande maioria, apenas pela convivência com outras pessoas, é algo natural para os seres humanos.

Já aprender a ler é uma invenção cultural relativamente recente, os nossos cérebros simplesmente não vêm “prontos” para isso.

A escrita/leitura é algo maravilhoso, podemos através delas compartilhar pensamentos, histórias, realizações, emoções. Mas é algo extremamente desafiador para nosso cérebro.

É necessário se criar conexões e caminhos para que o que vemos escrito em uma página possa ser decodificado e principalmente compreendido.

Neste processo nosso cérebro precisa criar conexões entre o som e a grafia da língua (sua forma escrita).

Essa conexão também é chamada de rota de decodificação fonológica e depois que ela é estabelecida, o cérebro cria rotas mais rápidas para ganhar fluência. Por isso, as palavras que mais usamos não são lidas decodificando os seus fonemas, mas sim de uma só “tacada”, é a rota lexical.

No entanto, enquanto ainda não conhecemos a palavra, ou ainda não a gravamos na nossa memória, não conseguimos utilizarmos a rota lexical (mais rápida), temos que nos utilizar da rota fonológica e decodificar o que está escrito. Por isso palavras novas demandam mais esforço!

E aqui vale a pena falar sobre a dislexia especificamente, pois a dificuldade do disléxico está exatamente em criar a rota fonológica, que como vimos é a base do processo, mas também a memória de trabalho não é tão eficiente, fazendo com que a construção da rota lexical não seja tão sólida.

Há uma importante linha de cientistas na área de aprendizado que reforçam a importância dos métodos fônicos no processo de alfabetização.

Mas a alfabetização não é algo que faz sentido em si só, de maneira isolada, nos alfabetizamos para fazer parte de algo maior, que é a comunicação.

A comunicação compreende diversas formas de linguagem, incluindo a verbal, a corporal, musical e inclusive a leitura e escrita; e deve estar contextualizada, fazendo parte de um todo, tendo relação com o ambiente e o mundo da criança.

O que você acha que seria mais rápido? Alfabetizar uma criança com palavras e termos do seu dia a dia ou utilizando-se termos científicos? Não há dúvida quanto a isso. Se fosse apenas uma questão de consciência fonológica, não faria diferença; mas deve também estar conectada ao ambiente e ao contexto infantil.

Há no meio educacional uma longa (e antiga, há mais de 60 anos) discussão sobre se utilizar métodos chamados sintéticos ou analíticos para se alfabetizar.

Métodos Sintéticos são aqueles que partem da decodificação dos pedaços para chegar no todo. São:

  1. Método Fônico, que parte dos sons de cada fonema para chegar às sílabas e então às palavras;

  2. Método Silábico, que parte das sílabas para as palavras (é aquele que fala be + a = ba);

  3. Método Alfabético, que parte do conhecimento do alfabeto (nome das letras) para a construção de sílabas e palavras.

E nesse sentido, o método fônico é o único que respeita o aprendizado como ele acontece no cérebro, relacionando som e escrita.

Já os Métodos Analíticos partem do todo para a análise da parte, como por exemplo os métodos construtivistas que partem da frase ou texto, para a palavra e então as letras. Esses métodos contextualizam, tornam o processo mais vinculado ao dia a dia da criança, algo valorizado por Paulo Freire. Sabemos também que trazer o conteúdo para algo que a criança reconheça como parte de sua vida, o torna mais fácil de ser aprendido e retido.

Para as crianças sem dificuldades de aprendizado, o método fônico traz uma base sólida. Para crianças com dislexia o método fônico é simplesmente essencial. Mas em nenhum dos dois casos deve estar descolado da realidade e do seu contexto.

Ou seja, na nossa opinião, temos aqui uma discussão ao longo dos últimos anos, por vezes pendeu para o lado dos métodos analíticos, por vezes pendeu para os métodos sintéticos; quando na verdade podemos utilizar o melhor dos dois e ter resultados mais efetivos, respeitando a diversidade e individualidade de formas de aprendizados.

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